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Parecer do novo CPP é ‘retrocesso’ inoportuno, afirmam Amperj e associações em nota

Inserido em 15 de abril de 2021
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A Amperj e a Conamp, ao lado de entidades que representam o Ministério Público e a área da segurança pública, consideraram “absolutamente inoportuno” o parecer preliminar do novo Código de Processo Penal (CPP), apresentado pelo deputado federal João Campos (Republicanos-GO), relator da comissão da Câmara de Deputados que analisa mudanças na legislação. Para as associações, a atual proposta não cumpre o objetivo de modernizar o CPP, e sim o “amarra ao passado”, além de trazer dificuldades ao trabalho de policiais, do MP e do Poder Judiciário, “contribuindo para aumentar a impunidade e ampliar a violência”.

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A oportunidade de se atualizar efetivamente a legislação processual não deve ser perdida, defende Cláudio Henrique da Cruz Viana, presidente da Amperj e crítico do conteúdo do atual relatório. “O combate à criminalidade é uma questão importante demais para a sociedade brasileira, não se podendo concordar com os retrocessos trazidos pelo projeto apresentado”, analisa Viana. 

A Conamp, que a Amperj integra, e outras 15 associações assinam nota pública divulgada nesta quinta-feira (15). O texto afirma que a proposta apresentada “mantém a persecução criminal brasileira amarrada ao passado, presa à época da origem da própria República”, e “chega a retomar questões já superadas pelo Supremo Tribunal Federal, como a do amplo poder de investigação do Ministério Público”.

Diz ainda que “ao invés de trazer à apreciação uma proposta de modernização e agilização da investigação criminal e, por consequência, do processo penal, o relator, mais uma vez, apresenta um projeto de manutenção do status quo, com ainda mais burocracia, menos eficiência investigativa e mais poder concedido a um único cargo que, por coincidência, é o mesmo por ele originalmente ocupado [delegado de polícia]”. 

As associações vão trabalhar para que o parecer do deputado seja modificado, de modo que sejam contemplados os anseios e necessidades da sociedade brasileira.

O promotor de Justiça do MPRJ Sauvei Lai participou de diversas audiências públicas promovidas pela comissão da Câmara dos Deputados, e prestou consultoria para a redação atualizada do CPP. Lai, que é professor da Escola de Direito da Amperj (EDA), teve sua contribuição destacada pela comissão, mas apenas uma parte de suas propostas foi acolhida. Ele ainda vê a possibilidade de aprimoramento de muitos dispositivos nas próximas duas semanas, quando serão recebidas sugestões. Depois disso, o relator terá dez sessões para finalizar o relatório.

Confira abaixo a íntegra da Nota Pública:

NOTA PÚBLICA

O GABINETE INTEGRADO DOS PROFISSIONAIS DE SEGURANÇA PÚBLICA E DO MINISTÉRIO PÚBLICO BRASILEIRO vem se manifestar publicamente sobre o Parecer apresentado no dia de ontem, 14 de abril de 2021, pelo Relator, Deputado Delegado João Campos, na Comissão Especial que analisa mudanças no Código de Processo Penal, na Câmara dos Deputados.

Neste momento de pandemia provocada pela COVID 19, em que os Poderes Constituídos estão voltados para salvar vidas da população e não há possibilidade de discussão ampla e democrática na Câmara dos Deputados sobre tema tão relevante e caro à sociedade brasileira, a proposta se apresenta, primeiramente, como absolutamente inoportuna.

No mérito, observa-se que, ao invés de trazer à apreciação uma proposta de modernização e agilização da investigação criminal e, por consequência, do processo penal, o Relator, mais uma vez, apresenta um projeto de manutenção do status quo, com ainda mais burocracia, menos eficiência investigativa e mais poder concedido a um único cargo que, por coincidência, é o mesmo por ele originalmente ocupado.

O texto chega a retomar questões já superadas pelo Supremo Tribunal Federal, como a do amplo poder de investigação do Ministério Público, reduzindo-o a um caráter meramente suplementar e afastando-se, assim, dos parâmetros de constitucionalidade e dos melhores padrões internacionais. Também interfere no poder de investigação de outras importantes instituições.

No tema, não há dúvida de que a sociedade anseia por modernização do ineficiente e arcaico modelo de investigação em vigor. Em vez de equiparar o Código de Processo Penal aos mais avançados do mundo, o parecer mantém a persecução criminal brasileira amarrada ao passado, presa à época da origem da própria República. Concentra o poder em poucas mãos e dificulta o trabalho de policiais e representantes do Ministério Público e do Poder Judiciário, apenas contribuindo, assim, para aumentar a impunidade e ampliar a violência Todos os integrantes do Sistema de Segurança Pública e do Ministério Público brasileiro, que subscrevem esta nota, se posicionam de forma veementemente contrária ao relatório apresentado.

Faremos todos os esforços para que a matéria não seja votada nas atuais condições excepcionais e, em caso de sua votação, para que seja modificado o relatório apresentado, em busca da construção de um texto que atenda realmente aos desejos e necessidades da sociedade brasileira.

Ressalta-se, que depois de mais de uma década de discussões, debates e sugestões, era de se esperar por avanços no tema, com a superação da crise de eficiência da investigação criminal, e não o reforço de posições manifestamente corporativistas, em proposta de segurança pública, que apenas atende aos interesses de um único cargo da instituição policial, em detrimento de toda a população.

 

ASSOCIAÇÃO NACIONAL DOS PROCURADORES DA REPÚBLICA – ANPR

ASSOCIAÇÃO NACIONAL DOS MEMBROS DO MINISTÉRIO PÚBLICO – CONAMP

FEDERAÇÃO NACIONAL DOS POLICIAIS RODOVIÁRIOS FEDERAIS – FENAPRF

FEDERAÇÃO NACIONAL DOS POLICIAIS FEDERAIS – FENAPEF

CONFEDERAÇÃO BRASILEIRA DE TRABALHADORES POLICIAIS CIVIS – COBRAPOL

CONSELHO NACIONAL DE COMANDANTES-GERAIS DAS POLÍCIAS MILITARES E

CORPOS DE BOMBEIROS MILITARES DO BRASIL – (CNCG)

FEDERAÇÃO NACIONAL DE ENTIDADES DE OFICIAIS MILITARES ESTADUAIS –

FENEME

FEDERAÇÃO NACIONAL DE ENTIDADES REPRESENTATIVAS DE PRAÇAS POLICIAIS

E BOMBEIROS MILITARES DOS ESTADOS E DISTRITO FEDERAL- ANASPRA

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE CRIMINALISTICA – ABC

ASSOCIAÇÃO NACIONAL DOS PERITOS CRIMINAIS FEDERAIS – APCF

LIGA NACIONAL DOS BOMBEIROS – LIGABOM

ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE ENTIDADE DE MILITARES ESTADUAIS – ANERMB

ASSOCIAÇÃO NACIONAL DOS MILITARES ESTADUAIS DO BRASIL – AMEBRASIL

FEDERAÇÃO SINDICAL NACIONAL DE SERVIDORES PENITENCIÁRIOS E POLICIAIS

PENAIS – FENASPPEN

ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE ESCRIVÃES DE POLÍCIA FEDERAL – ANEPF

SINDICATO DOS POLICIAIS FEDERAIS NO DISTRITO FEDERAL – SINDIPOL/DF