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Prêmio Grande Otelo 2024: Patricia Carvão indica filmes laureados

Inserido em 27 de setembro de 2024
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Por Patricia Carvão

Escrevo hoje por aqui sobre alguns filmes que tiveram destaque no Prêmio Grande Otelo (até ano passado conhecido como Grande Prêmio do Cinema Brasileiro) para profissionais do audiovisual. A cerimônia de entrega aconteceu no final de agosto — além da entrega dos prêmios, o evento foi marcado por uma homenagem ao Cinema Novo, movimento que surgiu na década de 1960, momento de repressão política da Ditadura Militar, e trouxe uma proposta mais próxima da realidade nacional, com temática de resistência ao sistema de poder.

Um dos marcos desse movimento foi o filme “Deus e o diabo na terra do sol”, de 1964, dirigido por Glauber Rocha, figura de maior destaque do Cinema Novo, e protagonizado pelo maravilhoso ator Othon Bastos (que, aos 91 anos, ainda nos brinda com sua arte, em cartaz nos teatros da cidade com a imperdível peça de teatro “Não me Entrego, Não!” (sei que essa é uma coluna de cinema, mas caso você ainda não tenha assistido essa peça… não perca!).

Feita esta breve introdução, comento alguns filmes premiados que assisti.

A procuradora de Justiça Patricia Carvão escreve uma coluna quinzenal na newsletter da Amperj, comentando filmes e séries aos quais assiste nos cinemas e plataformas de streaming. Conheça suas sugestões para o fim de semana!

MUSSUM, O FILMIS (2023)

Havia uma época em que os domingos, via de regra, eram preenchidos pelo “Programa Silvio Santos” e, mais ao final do dia, por “Os Trapalhões” — salvo engano, antecedia o Fantástico, que nos fazia internalizar que sim: o final de semana havia de fato chegado ao fim.

Do quarteto dos Trapalhões, de quem eu mais gostava era do Mussum. Ele era engraçado só de olhar. Talvez tenha sido este o motivo pelo qual eu gostei muito de “Mussum, o Filmis”, que conta a história de vida desse Trapalhão (Antônio Carlos Bernardes Gomes). O longa-metragem mostra que, além de ser muito engraçado, ele era um artista cheio de talento: compositor, sambista (começou sua carreira artística no grupo “Os Originais do Samba”), filho zeloso e cuidadoso com a mãe. Mangueirense apaixonado. Junto com Grande Otelo – que lhe deu o apelido de “Mussum”, seu nome artístico —, se destacou como um dos únicos comediantes negros da televisão brasileira na década de 1980. 

O filme é ótimo, emocionante e nos apresenta um pouco da história não só desse ator, mas da própria televisão brasileira.

Aílton Graça foi quem interpretou Mussum no filme — ele recebeu o Prêmio Grande Otelo de Melhor Ator pelo papel. 

Disponível no streaming – Prime Vídeo e Globoplay.

O SEQUESTRO DO VOO 375 (2023)

Um filmaço eletrizante de suspense, baseado em uma história real que eu desconhecia por completo. Nonato é um homem comum, que atravessa dificuldades financeiras por conta da situação econômica delicada do país durante o mandato do presidente José Sarney. Em surto, ele ingressa no voo 375, portando uma arma de fogo, e decide sequestrar o avião, obrigando o piloto a jogar a aeronave em cima do Palácio do Planalto. O filme é tenso do início ao fim, com ótimas interpretações.

O ator que interpretou Nonato (Jorge Paz) recebeu o Prêmio Grande Otelo de Melhor Ator Coadjuvante. Recomendo muito!

Disponível no streaming – Disney Plus.

AUMENTA QUE É ROCK ‘N’ ROLL (2023)

Outro filme delicioso de assistir, principalmente para quem gosta de rock e acompanhava a rádio Fluminense FM, a Maldita (como era conhecida). Luiz Antônio assume a rádio, localizada na cidade de Niterói, na década de 1980, em estado precário e tenta dar novo rosto ao local. A proposta era tocar apenas rock ‘n’ roll e ter locutoras mulheres, vanguardas na época. Só mesmo muito amor pela causa e uma equipe muito unida e idealista para carregar o projeto que se iniciava. Até o Rock in Rio se inspirou no repertório da Rádio Fluminense!

O músico Dado Villa Lobos foi agraciado com o prêmio de Melhor Trilha Sonora por seu trabalho no filme.

Disponível no streaming – Globoplay e Telecine.

PÉROLA (2023)

Achei esse filme tão sensível… Dirigido por Murilo Benício, nos traz o olhar de um filho sobre sua mãe e sobre sua própria história familiar. No caso, a vida da matriarca Pérola pela ótica e memória de seu filho, o dramaturgo Mauro Rasi. Um retrato de uma família comum, que briga, faz as pazes, comemora, chora e segue cheia de histórias, algumas alegres e outras nem tanto. As expectativas de uma mãe sobre os filhos, os desejos que não se realizaram… acima de tudo, é uma história sobre família. Lembrei do livro “O Arroz de Palma”, de Francisco Azevedo, e de sua definição de família.

Cito aqui um pequeno trecho:

“Família é prato difícil de preparar/São muitos ingredientes/Reunir todos é um problema…/Não é para qualquer um./Os truques, os segredos, o imprevisível/Às vezes, dá até vontade de desistir…/Família é prato que emociona/E a gente chora mesmo/De alegria, de raiva ou de tristeza/O pior é que ainda tem gente que acredita na receita da família perfeita/Bobagem!/Tudo ilusão!”

Pérola ganhou o prêmio Grande Otelo de Melhor Longa-Metragem de Comédia.

Disponível no streaming – Globoplay e Telecine.

PEDÁGIO (2023)

Termino a coluna com o fortíssimo “Pedágio”, agraciado com o prêmio de Melhor Longa-Metragem de Ficção e Melhor Direção pelo trabalho de Carolina Markowicz.

A narrativa nos traz a história de Suellen, interpretada com maestria por Maeve Jinkings, uma cobradora de pedágio. Ela leva uma vida dura e cria sozinha seu filho Tiquinho, que está no ensino médio. Suellen acha que o problema de sua vida é a homossexualidade do filho e decide investir todas as suas economias em um projeto apresentado por um pastor estrangeiro, o qual lhe assegura a eficácia da “cura gay” através de um método inovador. Um filme pesado, que fala sobre preconceito e sobre a venda de ilusões por pessoas que se aproveitam da vulnerabilidade alheia. Apesar da narrativa densa, a película nos apresenta uma realidade muito comum dentre aqueles que se envolvem na marginalidade.

Disponível no streaming – Globoplay, Prime Vídeo e Apple TV.

Esses filmes representam apenas alguns dos trabalhos que foram agraciados com o Prêmio Grande Otelo. Eis mais alguns destaques:

• Melhor Série Brasileira Documental: “O Caso Escola Base” – Canal Brasil

• Melhor Série Brasileira de Ficção: “Cangaço Novo” — Prime Video

• Melhor Ator na categoria Série de Ficção da TV por Assinatura: Júlio Andrade, por sua interpretação de Betinho em “Betinho – No Fio da Navalha” (já comentada em outra coluna) — Globoplay

• Melhor Longa-Metragem Documental: “Elis & Tom – Só Tinha de Ser Com Você” — Globoplay

• Melhor Atriz de Longa-Metragem: Vera Holtz, por sua interpretação de Tia Virgínia em “Tia Virgínia” — Globoplay

Viva a produção nacional e o Cinema Brasileiro. Bom final de semana!