Por Patricia Carvão
Trago na coluna desta sexta-feira alguns filmes a que assisti recentemente nos cinemas. O primeiro deles se chama “A Semente do Fruto Sagrado”, uma produção alemã dirigida por Mohammad Rasoulof. Apesar de sua longa duração — são 2h 47min —, vale o investimento de tempo. É um drama muito forte, capaz de nos mostrar a opressão constante de quem vive no Irã, notadamente das mulheres. O filme nos traz a história de Iman, que reside em Teerã. Recém-promovido ao cargo de juiz de instrução, ele é colocado em situações muito difíceis, que contrariam seus próprios valores morais internos. Com o passar do tempo ele começa a adoecer e sucumbir ao rígido sistema imposto pelo governo, sem fazer mais questionamentos.
Quando sua arma pessoal desaparece, Iman começa a desconfiar de sua esposa e filhas. A partir desse incidente, ele precisará lidar com um quadro paranoico de perseguição, que o levará ao completo esgotamento mental. A narrativa mostra como a pressão constante é capaz de transformar o comportamento de uma pessoa e transformar a própria essência do indivíduo. O filme foi gravado em segredo no Irã e disputa o Oscar pela Alemanha na categoria de Melhor Filme Internacional.
Trago também aqui o filme “Conclave”, em cartaz nos cinemas. O papa faleceu e agora é preciso escolher alguém para ocupar o lugar do chefe supremo da Igreja Católica: o Sumo Pontífice. Conclave é um filme britânico-estadunidense dirigido por Edward Berger e estrelado por Ralph Fiennes, Stanley Tucci, John Lithgow, Sergio Castellitto e Isabella Rossellini. A narrativa gira em torno dos conflitos e lutas de poder dentro da própria Igreja católica, que permeiam a escolha do novo papa.
Quais são os requisitos e adjetivos que um papa deve apresentar para ser eleito? Seriam a tolerância e a ausência de certezas requisitos essenciais para o exercício da função — ou existiriam ainda outros? O filme é ótimo e o final é absolutamente surpreendente!
No streaming, vi “A Hora do Orvalho”, um filme italiano dirigido por Marco Risi. Carlo é um jovem mimado e indisciplinado que, ao dirigir bêbado, causa um grave acidente. Ele é condenado a cumprir um ano de trabalho social em um lar para idosos chamado Villa Bianca, juntamente com Manuel, um jovem traficante. A princípio, os jovens olham os idosos de forma mecânica e sem a menor compreensão do que significa envelhecer.
Com o passar do tempo e a partilha da rotina vivida naquele espaço de acolhimento, vínculos de afeto são construídos e mudam para sempre o olhar dos jovens sobre a vida. Um processo de amadurecimento e construção de empatia acontece e vai conduzir os jovens a um mundo com valores diferentes dos quais eles apresentavam ao chegar no local. Um filme delicado e sensível, que vale conferir. Está disponível na plataforma Reserva Imovision.
“Karaoke” é um filme israelense de 2022, dirigido por Moshe Rosenthal. Uma comédia dramática muito interessante, que nos traz a história de um casal na faixa dos 60 anos, Meir e Tova, que é atraído por seu novo vizinho, um solteirão cativante e extrovertido que tem noites de karaokê em seu apartamento. A presença do novo vizinho abala a rotina pacata do casal e os faz questionar sobre a própria vida em comum, a partir do desejo de experimentar e viver novas experiências proporcionadas pelo tal vizinho.
A liberdade do outro muitas vezes pode ser sedutora e exercer um fascínio para quem faz a opção por outro caminho. As escolhas sempre têm consequências e cabe a cada um optar por qual caminho seguir, avaliando o que aceita abrir mão em detrimento do que deseja ganhar. Também disponível na plataforma Reserva Imovision.
“Memórias de Paris”, de 2022, é um longa-metragem dirigido por Alice Winocour. A diretora também é também conhecida pelo seu trabalho nos filmes “Augustine” (2012), “Cinco Graças” (2015), “A Jornada” (2019) e “Transtorno” (2015), todos muito bons!
No filme, assistimos a história de Mia e sua tentativa de se recuperar de um ataque terrorista em um bistrô na cidade de Paris, no qual morreram muitas pessoas. Traumatizada, Mia não consegue se lembrar exatamente dos eventos daquela noite. A película mostra sua tentativa de dar algum significado à experiência, para que possa seguir em frente e reconstruir sua vida. Disponível no Now (NET/Claro TV) ou na Apple TV.
Termino por aqui com uma dica de série que muito me agradou. Ela se chama “O Paciente”. Trata-se de um thriller psicológico que vai prender sua atenção caso você goste deste estilo de produção. São 10 episódios eletrizantes do início ao fim.
O terapeuta Alan Strauss é feito prisioneiro por um paciente que se revela serial killer. Com o tempo se esgotando, Alan luta desesperadamente para impedir Sam antes que ele se torne cúmplice de seus assassinatos — ou pior, sua próxima vítima. A série traz um fantástico Steve Carell no papel do terapeuta do assassino.
A discussão principal do seriado é sobre família, tanto do criminoso quanto do psicólogo. Entre as sessões de terapia, vamos descobrindo sobre o passado de Sam e os motivos que o levaram a viver aquela situação, inclusive a relação adoecida com a própria mãe. Strauss também relembra seu passado, suas relações familiares, a relação tumultuada com o filho e os ensinamentos de sua origem judaica. O terapeuta nunca conseguiu esconder a tristeza pelo filho ter virado judeu ortodoxo — o que trouxe intenso sofrimento a sua esposa até o dia de sua morte. Disponível no Disney Plus.
E você? Tem visto algum filme bom que gostaria de indicar? Alguma série?
Por ora, seguimos na torcida pela premiação do filme “Ainda Estou Aqui” em todas as categorias nas quais foi indicado ao Oscar 2025!
A procuradora de Justiça Patricia Carvão escreve uma coluna quinzenal na newsletter da Amperj, comentando filmes e séries aos quais assiste nos cinemas e plataformas de streaming. Conheça suas sugestões para o fim de semana!