Por Patricia Carvão

Começo escrevendo sobre um filme do qual gostei muito, em cartaz nos cinemas: “Um Completo Desconhecido”, dirigido por James Mangold. É uma delícia assistir e ouvir as músicas do filme, que nos traz a cinebiografia de Bob Dylan. O artista foi muito bem interpretado pelo ator Timothée Chalamet — ele canta, toca vários instrumentos musicais e interpreta com maestria a personalidade sempre em busca de liberdade e avessa a compromissos sociais, tão característica de Bob Dylan. A atuação de Chalamet está impecável e deve ter exigido do ator uma intensa preparação. Vale muito conferir!

Passando agora ao streaming, comento “Sweat”, longa que traz uma temática super atual: como as redes sociais estão nos afetando, nos adoecendo e modificando o comportamento humano. Sylwia é uma celebridade no mundo digital. Ela atua no mundo fitness e tem quase 600.000 mil seguidores. Tudo o que ela faz é postado nas redes sociais. O celular é praticamente uma extensão de seu corpo e a maior parte da sua vida é online.

Mas, na realidade, Sylwia se sente sozinha e um dia decide compartilhar esse sentimento com seus seguidores, causando estranheza. Como um sentimento assim poderia fazer parte da vida de uma figura perfeita e idealizada? Como uma mulher linda e com uma carreira promissora como ela poderia ser infeliz?

O filme aborda várias temáticas que debatemos como sociedade. Até que ponto estamos adoecendo pelo uso excessivo das redes sociais? Quem são essas figuras que criam perfis no Instagram e chegam a atingir milhares de pessoas com o conteúdo produzido? O que é real e o que é apenas fantasia? O que nos faz acreditar e aceitar que a vida do outro pode ser perfeita apenas pelo conteúdo postado em uma rede social? É possível para alguém viver produzindo conteúdo o tempo todo, ou isso por si só já não é sinal de crise e adoecimento?

Do mesmo diretor do tenebroso “A Garota da Agulha” (que já indiquei por aqui e concorreu ao Oscar de Melhor Filme Internacional de 2025 pela Dinamarca), Magnus von Horn, “Sweat” nos faz refletir sobre o que buscamos nas redes sociais e onde desejamos chegar. Disponível na MUBI.

“A Espiã Vermelha” não é recente. Você já assistiu? O filme é baseado em uma história verídica sobre a vida da cientista britânica Joan Stanley, acusada de ser agente secreta da KGB — o comitê de segurança russo. Joan foi presa aos 80 anos de idade em sua residência. Deve a Justiça buscar a punição de alguém já em idade avançada por atos praticados por esta mesma pessoa na juventude?

Muda-se com o avançar da idade. Ela traz fragilidade, vulnerabilidade. Estar-se-ia prendendo a mesma pessoa que praticou o crime? A pena de prisão é medida que tenha sentido nestes casos? Mas caso assim não se entenda, como pensar também nas vítimas destes mesmos criminosos, ou em seus familiares? Perguntas difíceis, respostas ainda mais complexas…

O desenrolar da história nos mostra, através das memórias de Joan, se ela de fato foi uma criminosa, ou, ao contrário, se foi envolvida por amor em uma trama que acabou tendo consequências que nem ela mesmo chegou um dia a prever. Culpada ou inocente? Disponível no Prime.

O que acontece quando uma menina, por conta de um projeto escolar, vai trabalhar com sua mãe e participa do ambiente corporativo ao qual ela pertence? É esta a história do filme francês “A Garota do Armário”. Colocada de início para fazer tarefas mais simples na empresa, como a organização de armários, Anouk com 14 anos, acaba por se envolver no caso relacionado ao pagamento de um seguro de vida. Ao encontrar a companheira do contratante falecido na recepção da empresa junto com suas filhas menores, a adolescente resolve por conta própria pesquisar o motivo da recusa ao pagamento do benefício. Ela começa inclusive a questionar algumas atitudes da própria mãe durante a condução do caso. Também a maneira como os adultos se relacionam entre si na empresa causa estranheza na adolescente, eis que um tanto quanto absurda e distante de seus padrões de valores.

Ao mesmo tempo em que vivencia todo esse ambiente empresarial, Anouk também enfrenta os conflitos inerentes à adolescência que atravessa e busca na investigação do tal caso entender um pouco mais sobre a vida adulta. O filme fala um pouco sobre o resquício de ingenuidade que ainda acompanha o olhar de uma menina na adolescência — e sobre a partir de que momento a sua percepção dá lugar ao início da compreensão do funcionamento do mundo adulto, com seus duvidosos códigos de convivência, cercado de automatismos e muito pouca sensibilidade. Disponível no Reserva Imovision.

Termino com a sugestão do filme “Acertando o Passo”. Nascemos cada um com nosso jeito peculiar de ser, com um temperamento… mas às vezes podemos acabar nos modificando negativamente com o passar dos anos, nos tornando pessoas mais fechadas e duras, limitando o tempo gasto com o que nos deixa verdadeiramente feliz. Os agentes externos causadores desse movimento de reclusão podem ser os mais variados possíveis: falta de tempo, trabalho excessivo, doença, falta de dinheiro, problemas familiares, relacionamentos pesados… uma lista sem fim.

Todavia, é fundamental que a gente tente gastar um tempo, mínimo que seja, com alguma coisa que nos faz feliz. Dar uma chance à vida todos os dias. Pequenas coisas, mas que para nós são importantes. Clichê… talvez. Mas é sempre bom lembrar, pois tem dias que a gente se esquece mesmo! Fica pesado.

O filme conta a história de Sandra, que após ficar casada por cerca de 40 anos, descobre que seu marido tem uma amante. Desesperada e sem chão, decide ir morar com a irmã mais velha, Bif, que vai lhe mostrar um novo estilo de vida e valoriza sobretudo o desfrute das pequenas alegrias que a vida pode trazer. O reencontro com a dança e o surgimento de uma nova paixão, farão Sandra redimensionar por completo suas prioridades.

As cenas de dança do grupo de amigos (AGE UK) são divertidas e alegres. O filme tem uma energia positiva que contagia. Gostei muito. Disponível no Prime e no Globoplay.

Bom final de semana!

A procuradora de Justiça Patricia Carvão escreve uma coluna quinzenal na newsletter da Amperj, comentando filmes e séries aos quais assiste nos cinemas e plataformas de streaming. Conheça suas sugestões para o fim de semana!