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Dicas Cinematográficas de Patrícia Carvão

Inserido em 24 de maio de 2024
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A procuradora de Justiça Patrícia Carvão escreve quinzenalmente na newsletter da Amperj. O tema de sua coluna são os filmes e séries a que ela assiste nos cinemas e nas plataformas de streaming.

Acompanhe e aproveite as sugestões sempre qualificadas da cinéfila.

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Dramas

Começo a coluna desta semana com o excelente filme alemão, indicado ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, “A Sala dos Professores”.  

Neste filme vemos como um conflito pode assumir proporções que fogem completamente ao controle das pessoas que nele estão envolvidas. Carla Nowak é uma professora nascida na Polônia e recém-chegada a uma escola alemã, para lecionar em uma turma do sexto ano. Ela tem como meta estabelecer com seus alunos um padrão de relacionamento mais participativo e democrático, em uma tentativa de escapar do rigor que normalmente prevalece nos ambientes de escolas mais tradicionais.

Ocorre, porém, que nessa escola começam a ocorrer alguns furtos, que precisam ser apurados. O filme nos traz uma quase radiografia da sociedade atual e vai nos mostrar a dificuldade em resolver qualquer conflito entre os integrantes de um grupo social. 

A escola é o espaço onde as principais interações acontecem neste filme e representa, na verdade, o mundo como um todo, com seus preconceitos, estereótipos e modelos. Carla percebe que muitas vezes cada sistema tem suas regras próprias de funcionamento, que são muito difíceis de serem quebradas. Disponível no Now/Net, Claro Vídeo, Google Play e Apple TV.

Minha outra sugestão é o filme francês “Close”, que acaba de entrar no catálogo da Netflix.

Ele nos traz a história de dois meninos, Léo e Remi, muito amigos desde pequenos e que nutrem muito afeto um pelo outro, sem qualquer cunho sexual. Ao mudarem de escola, porém, são questionados pelos alunos da nova turma acerca da proximidade existente entre eles, fato este que incomodará muito à Léo, que começará a se afastar do amigo.

A narrativa segue e mostra a dificuldade de Remi em lidar com esse processo súbito de afastamento de Léo e todas as consequências que disso decorrerão.

O filme mostra também os estereótipos de masculinidade com os quais os meninos precisam lidar para serem aceitos pelo grupo, desde a mais tenra idade, e como é difícil aceitar a sensibilidade masculina, que pode muitas vezes ser interpretada de forma absolutamente equivocada.

O filme é pesado, angustiante e ao mesmo tempo maravilhoso. Disponível na Netflix, na MUBI, no Now/Net e na Apple TV.

Trago ainda aqui o não menos sensível “A Menina Silenciosa‘. Como eu gostei deste filme!

Cáit vem de uma família pobre em afeto. Sua mãe está mais uma vez esperando um filho, prestes a nascer. Sobrecarregada por tantas tarefas, ela mal tem tempo para administrar a excessiva carga de trabalho doméstico e o cuidado com os outros filhos. A família também apresenta dificuldades financeiras para alimentar a excessiva prole.

Os pais decidem mandá-la para passar um tempo na casa de um casal de parentes distantes, que se oferece para cuidar da menina, permitindo à mãe se dedicar ao bebê que chegaria em pouco tempo. O pai a leva de carro como se transportasse um objeto inanimado.

Cáit chega na residência do casal cheia de defesas emocionais. Ela mal consegue falar (por isso o título do filme) e não tem qualquer habilidade para expressar seus sentimentos.

Aos poucos, porém, Seán e Eibhlín, o casal que a acolheu, começam a se conectar de uma maneira profunda com a menina, que descobre uma nova forma de existir. As pequenas gentilezas da rotina começam a se transformar em uma nova linguagem, completamente desconhecida por Cáit. A linguagem do afeto, cuja força é capaz de vencer qualquer dificuldade. Assisti o filme na plataforma da Reserva Imovision.

Termino aqui com a última dica desta coluna: “Minari: Em Busca da Felicidade disponível na Prime Video.

O longa é dirigido por Lee Isaac Chung e conta com a atuação da atriz sul-coreana Yuh-Jung Youn, que interpreta Soonja (avó da família), premiada no Oscar 2021 na categoria Melhor Atriz Coadjuvante. 

Assistimos no filme a narrativa sobre uma família coreana que chega aos Estado Unidos atrás da realização do típico sonho americano, que já levou tantos imigrantes ao país: ter a sua subsistência assegurada através do próprio trabalho, permitindo-se sair das condições de vida exaustivas (sem qualquer perspectiva de melhora) experimentadas no país de origem.

As dificuldades enfrentadas quando da chegada ao novo país não são poucas. Da moradia modesta (que parece não corresponder à expectativa de Mônica, a esposa) aos problemas com a aragem do solo, o isolamento social, a diferença cultural, a saudade da família que ficou longe… Tudo precisa ser enfrentado com muita luta e resiliência. Até a chegada de um momento em que o sonho passa pertencer a um só, não mais ao casal. O quanto é possível manter-se unido apesar de tanta adversidade ao redor? Até que ponto é possível renunciar a si mesmo em nome da manutenção da família? O amor basta para sustentar um sonho?

Foram as indagações que me fiz ao final de “Minari”.

O filme retrata com delicadeza a rotina de uma família comum, com suas brigas, suas diferenças, seus impasses, suas dificuldades, que se potencializam pela dureza do que significa viver em um país que não é a sua pátria de origem.

Recomendo!

Bom final de semana!