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Revista Amperj: A arte como alento

Grandes nomes da MPB lançam CDs na pandemia

Inserido em 18 de agosto de 2021
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Por Roberta Pennafort

“Não vejo a hora de o mal ir embora/ e a gente sair, meter a cara no mundo/ e da cara do mundo a máscara cair”. Em “Novo normal”, a cantora Mart’nália fala do mal-estar generalizado trazido pela Covid-19. O samba é um dos destaques do CD “Sou assim até mudar”, lançado em março como um desabafo sobre a difícil convivência com a pandemia, que trouxe dias de incerteza e trancou parte da população em casa.

Frequentadora da noite carioca e gregária por natureza, Mart’nália canta a “saudade daquele nosso vai e vem/ do oba oba, olá, tudo bem/ do som dos carros, o barulho do trem/ de chegar, abraçar e beijar, sem levar e deixar”. Também apresenta regravações de sucessos, como “Veneno” e “Sonho de um sonho”. Conhecida pelo bom humor, a intérprete não ficou imune à angústia que marca a época. “Sou uma pessoa que trabalha com alegria, ando com o sorriso largo. Tudo está muito difícil”, disse em entrevistas, por ocasião do lançamento.


(Foto: Nil Caniné)

Antes de Mart’nália, ainda em maio de 2020, no auge da quarentena imposta pela crise sanitária, Adriana Calcanhotto já apresentara o CD “Só”, inteiramente composto no período de isolamento social, e que mistura canções de amor, existencialistas e bem-humoradas. “Céu preto inteiro antes da uma/ ninguém na rua, nem mesmo a luz da lua” é uma das imagens poéticas criadas pela compositora sobre a solidão.

“O que temos são janelas/ em tempos de quarentena/ nas sacadas, nos sobrados/ nós estamos amontoados e sós” é outra. A inspiração veio da “incerteza quanto ao futuro”, “tudo dentro do tempo da urgência”, Adriana declarou então. O “CD emergencial”, como ela ao descreveu em uma live, é o primeiro com canções sem parceiros, o que se deveu justamente à falta de contatos sociais na pandemia.

São muitos os artistas da MPB cujo trabalho vem trazendo suavidade a este momento da emergência em saúde. Especialmente em 2020, quando a quarentena se impôs, os serviços de streaming se tornaram grandes companheiros das famílias, assim como os shows com transmissão on-line, que persistem este ano.

“Calma, que eu já tô pensando no futuro/ que eu já tô driblando a madrugada/ não é tudo isso, é quase nada/ tempestade em copo d’água”, pede Marisa Monte na faixa que puxa o CD “Portas”, recém-lançado. Não foi uma música feita na pandemia, mas serve de alento, na visão da cantora, para quem “o disco é positivo”, por ser ela “uma pessoa que tem esperança”, “mesmo num momento trágico, como o atual.”

Seja na letra ou na sonoridade, outras canções do CD – muito aguardado pelo hiato de uma década desde o trabalho anterior – também emprestam esperança aos dias atuais. É caso de“Portas”, “Quanto tempo”, “A língua dos animais”, “Espaçonaves” e “Pra melhora”, entre outras.


(Foto: Leo Aversa)

As boas novas incluíram o CD de Gal Costa, “Nenhuma dor”, o de Roberta Sá, “Sambas & bossas”, e o da dupla Anavitória, “Cor”. Gal se cercou de jovens nomes, como Silva, Rubel e Zeca Veloso, para regravar sucessos como “Coração vagabundo”, “Baby” e “Meu bem, meu mal”.

Por sua vez, Roberta decidiu divulgar um CD de 2004, que saiu à época com tiragem limitada, sob encomenda para uma empresa. Nele, a cantora registra sua versão para clássicos como “Chega de saudade”, “Coisa mais linda” e “Pressentimento”.

O CD de Anavitória, que chegou em janeiro, traz otimismo da primeira à última faixa. “É que eu sou dum lugar/ onde o céu molha o chão/ céu e chão gruda no pé/ amarelo, azul e branco”, elas cantam.

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