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‘Nossa missão é entregar serviços mais valiosos e inovadores aos associados da AMPERJ e ao MP’: veja o discurso de posse de Cláudio Henrique Viana

Inserido em 29 de janeiro de 2021
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O procurador de Justiça Cláudio Henrique da Cruz Viana foi empossado solenemente como presidente da Amperj (Associação do Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro) para o biênio 2021/2022, nesta sexta-feira (29) em cerimônia na sede da Associação e transmitida ao vivo pelo YouTube (assista aqui).

Em seu discurso de posse como presidente da Amperj, Cláudio Henrique se dirigiu aos associados destacando a vocação da Associação de pleitear e reivindicar melhorias nas condições de trabalho e produtividade dos membros do Ministério Público, dialogando e apontando soluções. Confira abaixo a íntegra do discurso do presidente da Amperj, Cláudio Henrique da Cruz Viana:

Exmos. colegas integrantes da Diretoria e dos Conselhos da Associação do Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro.

Senhoras e Senhores,

Antes de iniciar, gostaria de registrar meu agradecimento ao presidente Ertulei Laureano Matos por seu serviço à AMPERJ, assim como pela generosidade e cooperação prestada por ele e sua diretoria durante esta transição.

Meus colegas associados da AMPERJ:

Estou aqui hoje, virtualmente diante de vocês, me sentindo grato pela confiança depositada e humilde pela tarefa que se apresenta. Estamos cientes da complexidade dos desafios contemporâneos e dos imensos sacrifícios profissionais e pessoais que todos suportamos ao longo do último ano. Expresso meus sentimentos aos que sofreram ou sofrem perdas terríveis entre suas famílias e amigos. Atravessaremos esta tormenta juntos e a superaremos com união e solidariedade.

Melhor seria se não precisássemos mencionar esse assunto difícil e doloroso no dia de hoje, mas a verdade é que o próprio modo de vida em sociedade foi dramaticamente impactado por este vírus insidioso. Tendências sociais e tecnológicas que antes se moviam de forma quase imperceptível foram aceleradas vertiginosamente e muitas delas não vão retroceder quando o vírus se for, porque se provaram vantajosas para a coletividade.

Portanto, nosso primeiro dever na presidência da AMPERJ é compreender a natureza destas mudanças, ponderar o que é perene e o que é apenas passageiro e, por fim, agir no melhor interesse dos associados para que a nossa Associação atenda plenamente às novas necessidades.

Permitam-me uma breve digressão sobre o tema, que me parece ser tão relevante quanto complexo.

Em nossas vidas, quando estamos diante de uma situação inesperada e desafiadora, quando nos deparamos com situações imprevisíveis – que Nassim Taleb chamou de “cisnes negros” –, não existe nada mais importante do que tentar entender como esta nova realidade funciona e aprender a lidar com ela da forma mais eficiente possível.

Todos já passamos por situações assim ao longo da vida e sabemos como uma mudança indesejada pode ser difícil e paralisante, mas também sabemos que aceitar a realidade como ela é, ao invés de negá-la ou de ficarmos presos aos nossos desejos de como as coisas deveriam ser, é o primeiro passo para resolver qualquer problema.

Se observarmos como a natureza lida com as mudanças, verificamos um fenômeno interessante. A natureza parece identificar como positivas aquelas mudanças que são boas para o todo, não apenas para um indivíduo.

Pensem nos nossos genes por um instante. O DNA existente em cada um de nós é oriundo de eras passadas, que foi transmitido e aperfeiçoado incontáveis vezes até nos ser presenteado por nossos pais. Meus dois filhos que aqui estão são a prova desta evolução.

É curioso notar que isto não ocorre apenas com pessoas, mas com todas as formas da criação humana. Produtos, serviços, organizações, instituições e, claro, as associações de pessoas também evoluem ao longo do tempo, adaptando-se para se tornarem melhores e mais adequadas às novas realidades. Caso não evoluam, simplesmente deixam de existir por não terem mais propósito.

Notem que a Idade da Pedra não acabou por falta de pedras; acabou quando evoluímos o suficiente para dominarmos o fogo e os metais. Da mesma maneira, a era analógica não irá se encerrar por falta de papel e tinta. Mas será inevitavelmente substituída pela era digital, cujas principais vertentes evoluíram em saltos de 10 anos nos últimos 12 meses.

Esta perspectiva pode parecer assustadora para nós, nativos da era analógica e tímidos imigrantes na era digital, mas, creiam, todos conseguiremos lidar com as novas tendências e tecnologias e seremos por elas beneficiados. Porque a prevalência desta mudança beneficiará a todos e não apenas alguns.

Eis a beleza subjacente dos processos evolutivos, naturais ou não. Para que algo seja considerado bom precisa estar alinhado com a realidade atual e contribuir para a evolução potencial de todos.

Assim, quando criamos ou aperfeiçoamos um serviço ou produto – de modo a gerar valor para as pessoas ou atender a uma necessidade relevante e menos atendida até então –, podemos aspirar a ser recompensados pela nossa contribuição ao todo, com a dádiva da perenidade e da longevidade de nossos esforços.

E são estes desígnios e benefícios que buscaremos com obstinação, ao longo do nosso mandato. Nossa missão é entregar serviços cada vez mais valiosos e inovadores aos associados da AMPERJ e ao próprio Ministério Público.

A premissa é que as iniciativas da AMPERJ devem passar por filtros que atestem o seu valor e a sua pertinência para o conjunto de associados. A iniciativa é útil? Atende a alguma necessidade relevante?? Se a resposta for sim, vamos buscar esta evolução, não porque será fácil, mas porque é essencial para nós.

É evidente que a definição do que é de fato essencial sempre exigirá sensibilidade e atenção. Durante o último ano, fomos forçados a reconhecer o valor daquilo que passava desapercebido. A limitação da mobilidade deixou claro que pequenas liberdades triviais, como tomar um café na padaria ou apreciar um bom vinho com os amigos, são na verdade essenciais para uma vida saudável.

Prestar serviços essenciais ou realmente úteis às pessoas sempre terá valor e merecerá reconhecimento, mesmo que nossos esforços sejam aparentemente simples ou discretos. O norte da utilidade e da simplicidade guiará a relação da AMPERJ com os seus associados e, se me permitem dizer, também deveria guiar qualquer instituição pública que presta serviços aos cidadãos, sobretudo em tempos de recursos escassos.

A tecnologia tem feito com que incontáveis atividades presenciais ou físicas migrassem para o canal digital, permitindo que nosso trabalho prosseguisse, abrindo caminhos sem retorno, mas nos deixando também um guia prático de como inovar com sucesso no futuro.

A primeira lição é que mesmo as mais fantásticas inovações precisam ser claramente úteis aos seus destinatários, ou simplesmente não serão usadas por ninguém, além de quem as criou.

Promotores e Procuradores de Justiça são profissionais dos mais valiosos e capazes. Exercemos uma parcela do poder político constitucional. Mesmo assim, muitos de nós ainda passamos boa parte da jornada de trabalho realizando tarefas repetitivas e burocráticas, destituídas de utilidade finalística. Tarefas que poderiam facilmente ser eliminadas ou simplificadas pela boa e útil tecnologia.

Por outro lado, apesar de existirem regras e recursos tecnológicos disponíveis para garantir a nossa segurança laboral, muitos precisaram neste período atuar em condições sanitárias claramente inadequadas.

É nosso dever primordial pleitear e reivindicar em nome dos associados, mas também colaborar e dialogar, apontando soluções que melhorem as condições de trabalho e a produtividade dos membros do Ministério Público. Estaremos prontos para agir na defesa dos seus melhores interesses, com discrição, eficiência e independência.

E para saber quais são os reais interesses dos associados precisamos ter a comunicação como palavra-chave. Não por acaso, comunicar, em latim, é sinônimo de compartilhar.

Durante muito tempo, nos acostumamos à ideia de que a comunicação se resumia ao processo de transmissão centralizada de mensagens, conteúdo ou notícias. Toda indústria da mídia foi erguida sobre esse frágil pilar.

Porém hoje está claro que não basta enviar mensagens, que frequentemente não serão lidas. O conteúdo precisa ser útil e interessante. E mesmo isso ainda é insuficiente, porque boa parte da verdadeira riqueza do processo de comunicação ocorre apenas quando o destinatário se torna mensageiro de seus próprios anseios e opiniões. E quando nós o ouvimos com idêntico interesse.

Reformularemos a comunicação da AMPERJ, modernizando a forma e os canais, buscando conteúdos mais úteis. E, principalmente, criaremos mecanismos de consulta periódica ao associado.

Questiono, desde quando ingressei no Ministério Público, há quase 30 anos, a dificuldade de comunicação entre quem exerce a atividade-meio e quem exerce a atividade-fim. Compartilhar as dificuldades operacionais e a dor de quem está nas trincheiras precisa ser um objetivo comum. Precisamos saber o que o outro realmente pensa e deseja, não apenas presumir.

Para todo lugar que olhamos, há trabalho a ser feito. E isso muito me anima! Hoje, digo a vocês, com o coração aberto, que os desafios que enfrentaremos são sérios e são muitos. Não serão vencidos facilmente ou sem a cooperação de todos. Mas, saibam, serão vencidos!

Nossos desafios podem ser novos. A tecnologia com a qual os enfrentaremos pode ser nova. Mas os valores dos quais dependem o nosso sucesso – trabalho duro e honestidade, coragem e tolerância, caráter e espírito livre –, são eternos.

Esses valores são verdadeiros. E são a força silenciosa do nosso progresso como instituição, ao longo do tempo. Sempre que um de nós se afasta deles, ainda que involuntariamente, se afasta daquilo que nos define como integrantes do Ministério Público e seres humanos.

Nossa natureza é aceitar alegremente desafios difíceis, porque não há nada tão satisfatório quanto superá-los com sobriedade e retidão. Aos que não nos conhecem, deixo um conselho: nunca apostem contra o Ministério Público!

Este é o significado da nossa vocação ministerial: o motivo pelo qual pessoas – de todas as raças, origens e crenças, indivíduos tão diferentes entre si – podem se irmanar em unidade de propósito, assumindo riscos e enfrentando perigos sem hesitar, para defender o que é justo e certo, em nome de quem não tem voz.

Colegas, com esperança e virtude, vamos construir o nosso futuro e resistir às tempestades que podem vir. Mesmo quando o horizonte parecer nebuloso e ameaçador, os descendentes dos nossos descendentes saberão que não fraquejamos e mantivemos acesa e protegida a chama dos ideais do Ministério Público.

Hoje iniciamos um novo caminho guiados por esta chama.

Que Deus nos ilumine e nos proteja nesta travessia!

Muito obrigado!