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Dicas cinematográficas de Patrícia Carvão

Inserido em 10 de novembro de 2023
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A procuradora de Justiça Patrícia Carvão, grande fã de cinema, escolheu dois títulos disponíveis nos principais streamings para o fim de semana. A coluna “Dicas Cinematográficas de Patrícia Carvão” é quinzenal na newsletter da Amperj. Não perca.

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O Passado (2013)

“O Passado” é um filme de 2013 dirigido por Asghar Farhadi, mesmo diretor dos filmes “A Separação” e “O Apartamento”. Na história, Ahmad é casado com Marie, mas eles estão separados de fato, pois Ahmad regressou ao Irã, para ali fixar residência. A vida em comum com Marie tornou-se impossível, e Ahmad optou por voltar para seu país de origem.

Quatro anos após ele retorna à França, atendendo ao pedido de Marie, que deseja regularizar o divórcio do casal (seria só esse o motivo?). Eles não possuem filhos em comum, e não existem bens a partilhar. Tudo parece muito fácil, e a ruptura do vínculo existente entre ambos teria tudo para transcorrer de forma tranquila.

A questão é que Marie possui duas filhas de outro casamento: Lucie e Lea. A mais velha, Lucie, já adolescente, tem um vínculo muito forte com Ahmad, e tem melhor relacionamento com ele do que com o próprio pai biológico, que reside na Bélgica.

Marie tem um novo relacionamento com Samir, pai do pequeno Fouad. Todos residem juntos na casa de Marie, apesar do fato de Samir ainda ser casado. Ele enfrenta uma tragédia pessoal, já que sua esposa se encontra hospitalizada em um quadro de coma irreversível.

Ahmad parece ficar surpreso com esse novo relacionamento de Marie, mas não cria maiores óbices ao divórcio do casal. A maior dificuldade enfrentada por Marie é lidar com a filha mais velha, Lucie, que não aceita o novo relacionamento de sua mãe com Samir. A adolescente passa a adotar um comportamento muito reativo, e Marie vai pedir apoio à Ahmad para resolver esse imbróglio familiar. Lea e Fouad, ainda crianças, parecem se dar bem entre si.

Marie precisará da ajuda de Ahmad para conseguir não só entender o motivo da raiva nutrida por Lucie contra Samir, como também para conseguir dialogar com a própria filha, a fim de entender o motivo de sua rebeldia.

O correr do filme mostra como pode se tornar difícil a relação dos filhos com os novos parceiros de seus pais, e como muitas vezes tais conflitos podem surgir por suposições, pensamentos equivocados, mal-entendidos e até mesmo pelo medo de um possível abandono.

O vínculo afetivo construído por um terceiro com uma criança (o que muitas vezes pode perdurar durante toda a infância) não se dissolve com facilidade, mesmo ante a ruptura do relacionamento entre o par conjugal.

O filme também mostra que há histórias ruins que precisam ficar para trás, para que novas narrativas sejam construídas e a vida siga em frente. Não é possível apagar o que já aconteceu, não é possível eliminar o passado, mas é possível, e necessário, continuar caminhando e olhar para além.

Ficha técnica

O Passado (Le Passé / گذشته‎ Gozašte)

Direção: Asghar Farhadi

Elenco: Bérénice Bejo, Tahar Rahim, Ali Mosaffa

Produção: 2013

Disponível na Netflix

Nyad (2023)

Cada um de nós escolhe (de forma consciente ou não) uma forma de ser e estar no mundo. Essa construção vai depender de todas as histórias que vivemos: das experiências que nos trouxeram prazer e alegrias, mas sobretudo das frustrações vividas e das dores que experimentamos e que precisamos, ainda que com grande esforço psíquico, assimilar de alguma forma, para continuar seguindo em frente, para continuar vivendo.

Digo isso porque me perguntei por várias vezes ao longo do filme NYAD o motivo que leva alguém como Diana Nyad, interpretada de forma magnífica por Annette Bening, a se desafiar da maneira como o fez, com 61 anos, para atravessar a nado, o trecho entre Cuba até Key West na Flórida, numa distância de 177 km. A travessia em mar aberto já havia sido tentada pela própria Nyad, quando ela tinha 20 anos. 

Adorei o filme, as atuações de Annette Bening e de Jodie Foster (excelente como Bonnie Stoll, melhor amiga de Nyad, e sua treinadora durante a empreitada que ela se propôs) são irretocáveis.

A história vivida por Nyad com o próprio pai, os abusos sexuais por ela sofridos, praticados pelo seu técnico quando ela era ainda muito jovem, parecem ter criado uma confusão de sentimentos e afetos descontrolados, que fizeram nascer em Nyad uma força interior e uma resiliência sem limites. Para além disso, parecem ter contribuído para a formação de uma personalidade obsessiva no mais alto grau, e até certo ponto incapaz de ser compreendida por aqueles que se propuseram a acompanhá-la em sua busca. Talvez nem mesmo Nyad tivesse a real compreensão do que esse autodesafio representasse para si mesma. Apenas precisava fazê-lo.

Nyad foi dirigido por Elizabeth Chai Vasarhelyi e por Jimmy Chin que também estão à frente de “Free Solo” (2018), sobre a escalada por Alex Honnold, sem equipamento de segurança, da rocha El Capitan, no Parque Nacional de Yosemite, na Califórnia. Além de Free Solo, os diretores também dirigiram ‘O Resgate’, sobre a história de doze jovens jogadores de futebol e seu treinador, que ficam presos numa caverna na Tailândia.

Haja coração!

Ficha técnica 

Nyad

Direção: Elizabeth Chai, Vasarhelyi, Jimmy Chin

Elenco: Annette Bening, Jodie Foster, Rhys Ifans

Produção: 2023

Disponível na Netflix e na Prime Video